quinta-feira, 9 de junho de 2011

Descriminalização da Maconha: Água ou Gasolina?





Os primeiros meses de governo de nossa primeira presidente mulher têm sido, no mínimo, polêmicos. Sua primeira crise política com o caso Palloci, a aprovação da união homoafetiva, as discussões do Kit-Gay e o desfecho do caso Battisti (presente de seu predecessor). Alheio a tudo isso, nasce a discussão, através de movimentos, declarações e passeatas a possibilidade da descriminalização do uso da maconha.

Desnecessário enfatizar que o consumo e tráfico de drogas no país é um problema crônico, influenciando fatores como violência, morte, família e saúde pública. As drogas ilícitas estão presentes hoje em todas as classes sociais. Essa passeata que ocorreu, por exemplo, em prol da descriminalização da maconha (pra ficar claro: deixar de ser crime o uso desta droga) teve motivação de pessoas de classe média/alta.

Não é apenas um grupinho de maconheiros da mais obscura periferia da cidade que está engajado nessa campanha. Gente do porte de Fernando Henrique Cardoso tem opinado contudentemente sobre o assunto, trazendo casos bem sucedidos aplicados em países da Europa. Isso pode ser visto no documentário produzido por Fernando Grostein Andrade, chamado "Quebrando o Tabu" (http://www.quebrandootabu.com.br/).

Todos já ouvimos dizer que a maconha pode ser considerada a porta de entrada para drogas mais pesadas. Essa escalada do vício, claro, deve levar em consideração muitos fatores - faixa etária, situação social e econômica, personalidade. Mas talvez o grande objetivo desta proposta seja acabar com o estigma de proibido, fator com que faz com que muita gente entre nessa. Além de desafogar os trâmites judiciais e policiais.


Será mesmo que, o consumidor de maconha, sabendo que não será indiciado, vai deixar de consumir? Eu vejo exatamente o contrário. Isso soa pra mim como um aumento nas vendas do tráfico, além de dificultar ações de combate ao mesmo. Traficantes e envolvidos irão usar pra si o argumento de consumo (mesmo nas quantidades mínimas estipuladas na Lei) pra encobrir as atividades de tráfico.


Nas festas, boates e demais baladas, onde o consumo hoje é (nem sempre) sutil, haverá uma verdadeira orgia do cânhamo. Crianças e adolescentes que hoje adquirem o vício do cigarro de nicotina comum (nas turmas de escolas, família) vão fazê-lo diretamente com a maconha, e mesmo em casos de menores de idade, não poderão ser repreendidos pela Lei.


Talvez na visão de quem use, não vê crime algum nisso. Sempre haverá o discurso de que inalar fumaça de uma erva não é tão prejudicial à saúde do que as dezenas de substâncias químicas do cigarro convencional. Sempre se esquecendo é claro dos efeitos alucinógenos que a droga oferece. Alinear a mente é alienar a responsabilidade.


É evidente que o nível de responsabilidade difere de pessoa pra pessoa. Como o álcool, que é uma droga lícita, pessoas consomem e não afetam sua vida social e pessoal, e outras destroem vidas e emoções, próprias e alheias.


Enquanto os Estados Unidos cada vez mais tentam combater o consumo do cigarro comum, aqui parece que essa discussão vai gerar efeitos exatamente na contramão desta intenção.


Acho que o fiel da balança será a atuação do Ministério da Saúde. Este é o órgão que deve, com argumentos científicos, embasar o nível de prejuízo que o consumo de maconha traz à saúde de uma pessoa.