Que o mundo mudou muito nos últimos 30 anos, até o coqueiro do meu jardim sabe disso.
Que a multiplicação das atividades, das comunicações, das possibilidades sociais, multiplicou o ritmo de vida das pessoas, até uma criança de 3 anos que começa a ter aulas de inglês hoje em dia, sabe disso.
Aliada à explosão demográfica e os problemas que ela originou, a luta cada vez mais feroz pela sobrevivência fez com que o ser humano se tornasse intolerante.
Essa intolerância faz com que não ajudemos mais as pessoas como fazíamos no passado. Nos faz ser mais egoístas, nos fechar em nossos mundos.
Um fato que ocorreu esses dias me fez pensar muito nisso. Estava numa bela tarde de fim de expediente, com um trânsito tolerável, mas chato a minha frente.
Na pista a minha direita, pouco a frente um veículo parou por problemas mecânicos, conduzido por uma senhora.
O motorista do carro a minha frente parou seu veículo, e consecutivamente parou a fila de carros na minha pista. E foi empurrar o carro da senhora, retirando da pista do meio e conduzindo-o ao acostamento.
Uma atitude louvável, que nem eu fiz, apenas cumprimentei-o com um sinal positivo. Mas, inacreditáveis foram os xingamentos de motoristas que estavam atrás da fila de nossa pista. Como que criticando aquele bondoso homem por ter ajudado à senhora.
Uma inversão de valores. Pessoas querem cuidar de suas vidas, fingindo que não há ninguém a nossa volta precisando de ajuda. E pior, criticando acidamente quem o faz.
É o Império do Egoísmo.
Não estou me excluindo disso. Este ritmo de vida contamina a todos. O que talvez temos que ter é consciência e tentar reduzir o máximo possível os efeitos dessa intolerância.
Essa intolerância não está apenas nas ruas, com pessoas desconhecidas. Isso floresce também dentro dos lares. Até mesmo entre pais e filhos. Marido e mulher. Irmãos.
O quão comum hoje é a preferência que muitos maridos e esposas dão a encontros com amigos após o expediente do que a companhia de sua família? Jovens hoje podem ficar dias, semanas sem conversar com seus pais e irmãos. Mas tire uma só noite o Orkut deles pra ver o que acontece......
As relações humanas enfim estão cada vez mais frias.
Evidentemente que existem as maravilhosas exceções. Pessoas que ajudam e trabalham para instituições de caridade, pessoas que mesmo sem compromissos, visitam idosos em asilos, crianças em hospitais, ajudam pessoas carentes das ruas. Mesmo sendo desconhecidos.
Será que a tecnologia e o ritmo dos novos tempos estão matando dentro de nós nosso lado humanitário, solidário, sociável e participativo?
Eu ainda acredito no ser humano. No lado bom do ser humano. Acredito em mudanças. Acho que podemos, mesmo num ritmo frenético e alucinante de vida, voltar a cultivar dentro da gente esse lado solidário, acreditar que 10 minutos de nosso tempo pode significar uma doação de vida pra quem está agoniado ao nosso lado.
Só precisamos aprender a enxergá-lo novamente.