Que recompensa nos é
devida por termos personalidades voltadas ao bem, à honestidade, à
solidariedade, ao espírito pacificador? Nenhuma recompensa material ou divina
está à nossa espreita. Mas existe um elemento que se alimenta demais de tais
brandas atitudes: a nossa consciência.
É uma condição totalmente
abstrata e apenas só pode ser avaliada por cada indivíduo. Quantas vezes
algumas pessoas ficam muito mal após terem agido, ou tratado ruidosamente
alguém, ou deixado de ajudar quando podiam? Talvez muita gente não tenha esse
sentimento de culpa, mesmo quando não se trata exatamente de culpa. Muitas
pessoas agem por impulso, ou mesmo por mera intenção, mas não guardam um
miligrama sequer de preocupação com as consequências que seus atos podem
causar.
Não devemos, no entanto,
confundir atos bondosos ou orientados ao bem com comportamentos ingênuos ou
inconsequentes. No mundo de hoje, temos naturalmente desenvolvido comportamentos
de proteção, sempre atentos às armadilhas sociais, comerciais, de
relacionamentos. Ser atento, saber se defender e lutar pelos nossos direitos
não significa que devamos ser necessariamente ásperos, rudes, agressivos ou
despojados do espírito acolhedor.
Encontramos as cobranças
de nossa consciência das formas mais simples possíveis, no dia a dia. Quem
nunca ficou impaciente, desconcentrado nas demais coisas do dia a dia, quando se
tem uma discussão com alguém da família, ou do trabalho, ou um com amigo
próximo? E só consegue se tranquilizar quando resolve tais conflitos com uma
boa dose de conversa. Mesmo que os erros provenham de qualquer uma das partes,
apenas pelo fato de abordar o assunto, sem que a situação repouse novamente em
lindas flores, nos afogamos no transbordante sentimento de alívio. Certa vez eu
ouvi de uma pessoa que ela odiava brigas ou discussões, a ponto de mesmo, que
ela tivesse razão, ela se esquivava do conflito, seja com um marido ou
namorado, seja com um desconhecido por conta de uma vaga num estacionamento
popular. Esse comportamento, covarde na visão de muita gente, é uma autodefesa
para não passar por momentos de tensão e pressão e por conta disso não ficar em
desagrado com sua consciência. A meu ver, tal pessoa talvez não esteja preparada
pra passar por situações onde deva usar de bom censo para resolver questões que
acredita ser de seu direito. Não é ofender ou agredir, é apenas argumentar a
favor de sua razão, de maneira firme e educada ao mesmo tempo. Pessoas com
posições fortes e convincentes são mais respeitadas e por consequência,
admiradas e seguidas.
E, mesmo quando cometemos
alguns deslizes que farão com que nossas consciências venham corroer nosso
sono, existe um remédio que funciona como um álamo de grandiosidade e
sabedoria: o ato da desculpa. Como é nobre e bela a iniciativa de se desculpar
com alguém. Além de balançar a flâmula da humildade, tal ato mostra que podemos
ser superiores a nosso ego, a ponto de admitirmos nossos erros para que nossos
relacionamentos continuem agradáveis com a pessoa ferida.
O
comportamento do ser humano mudou muito ao longo dos tempos, movidos por
conceitos modernos de sociabilidade, de sobrevivência, da forma de se comportar
e de pensar. Mas uma coisa acredito ser certa: é muito mais fácil passar por
tudo isso quando estamos bem com nossa consciência, e para isso talvez tenhamos
que deixar nosso coração agir com paixão, firmeza e benevolência.