Copa das Confederações. O Brasil noticiado em muitas partes
do mundo. Estádios que custaram milhões (e que cujos orçamentos foram
extrapolados – basta ver a revista Veja todo mês para observar cada caso).
Políticos todos felizes nas inaugurações. Não existiria momento mais propício
para que fossem deflagrados, em todo o país, movimentos de jovens que saíram às
ruas para protestar e fazer com que muita gente no globo percebesse que o
brasileiro não é apenas um fanfarrão, fã de futebol, praia e samba. Também tem
suas visões políticas e seu inconformismo acerca de má administração dos
recursos públicos.
O reajuste de R$ 0,20 nas tarifas de transporte das capitais
foi apenas um gatilho. Existem interesses escusos por trás de tais movimentos?
Claro que sim. Isso é um deleite para a oposição de ano-véspera de eleições
presidenciais. Mas até quando aceitar com as nádegas grudadas na cadeira, os
desmandos do reino empresarial/governamental da nação? Reajustes nos salários
de deputados, senadores, criação de bolsas-auxílio para categorias necessárias
duvidosas, cortes na aposentadoria, em face da eterna precária condições dos
serviços públicos, sem que ninguém questione, feito por “eles” e para “eles”.
É claro que no meio destas dezenas/centenas de inconformados
que saem às ruas existem baderneiros, delinquentes, gente que quer mais
destruir do que ser ouvido. A polícia exagera no seu dever de manter a ordem?
Sim, lá no meio dela também existem profissionais despreparados. Agora, se ela
receber pedradas, tem mesmo que agir, ou como se fala por aí, descer a
borracha. Mas isso não é desculpa para se tombar carros, destruir caixas
eletrônicos, depredar ou saquear lojas. Quem faz isso é bandido. Outra coisa:
protesto é feito para os interesses da população, não para prejudicá-la. Fazer barricadas,
queimar coisas, interromper trânsito, apenas traz dor de cabeça aos cidadãos.
Não existem apenas santos ou demônios, seja entre os
protestantes, seja entre a polícia, seja entre os governantes. Mas não dá mais
pra engolir essa história de que a solução dos problemas do país repousa no
poder do voto. A Constituição de 1988 trouxe de volta o voto direto, então já
são 25 anos, e sai presidente e entra presidente e os três principais pilares
da cidadania brasileira estão sempre em frangalhos: educação, saúde e
segurança. Como sempre falo nesse espaço: pôr a casa pública em ordem tem que
partir do conceito da boa administração. Senadores, deputados, governadores são
pagos por nós cidadãos para trabalhar em nosso favor. Eles têm que focar suas
gestões em cortes de gastos desnecessários, e voltar os investimentos certos
para necessidades certas. Nem devo entrar no mérito da corrupção, pois isso é
algo que se pressuponha que jamais deva existir. Mas sim na competência administrativa,
na intenção de ser funcional o sistema governamental. Para um povo e também para
um meio empresarial que sofrem com uma carga tributária que beira o terrorismo
e que abastece mensalmente, com bilhões de reais, os cofres da nação.
Protesto sim. Mas com racionalidade, organização, bom censo
e respeito à ordem e aos direitos dos cidadãos. Um movimento feito sem
argumentação e na base da violência, perde sua razão de existir. Se o poder
emanar da força e não da palavra, ele se aproxima mais de um modelo de ditadura
do que de democracia.