O recente ataque terrorista que causou a morte de
jornalistas e cartunistas da revista francesa Charlie Hebdo traz a tona
uma reflexão sobre duas frentes que corroem e mancham o sentido de humanidade
das pessoas. A primeira delas é bem clara e óbvia. Qualquer
movimento no sentido de se colocar terror na vida das pessoas não só é
condenável como uma ação que tem de ser extinta das práticas sociais no mundo,
seja ela causadora de mortes ou não. Alguns estudiosos ou ideológicos políticos
podem apontar a opressão econômica de países ocidentais contra os do médio
oriente como uma forma similar de terrorismo. Quando existem conflitos
militares, centenas e milhares de vidas se perdem em todos os lados. Mas quando
civis são alvos da intolerância, torna-se uma clara expressão de quão expostas
à barbárie estão as pessoas comuns, independente de viveram na Europa ou em
qualquer continente.
Por outro lado, poderíamos discutir também qual a
fronteira que divide a livre expressão do ato de desrespeito a costumes e
crenças. Não se deve haver censura nas artes e nos meios de comunicação. Mas
até que ponto devemos concordar com publicações que
ridicularizam, envergonham ou agridem visualmente crenças, ideologias e modos
de vida, por mais antiquadas e opressoras que sejam?
É verdade que muitos países do islã pregam o ódio e
influenciam suas crianças a tornarem-se inimigos de países tradicionais, a
ponto de tornarem-se suicidas e homicidas por uma causa religiosa? Sim. É
vergonhoso para raça humana o modo como as mulheres são tratadas na maioria
desses países? Sim. É repugnante nos depararmos com cenas de civis sendo
degolados? Sim. Mas, vamos refletir. Suponhamos que eu tenha um vizinho
canalha, que destrata sua família, não tem facilidade de convívio social e
menospreza seus próximos. E tal atitude seja atrelada a uma crença ou a um
grupo social a que ele pertence. Num belo dia eu faço uma publicação popular
(um relato ou uma charge/montagem fotográfica) ridicularizando todas as pessoas
que compactuam com as crenças desse vizinho. Aí ele vem e me assassina.
Obviamente que ele agiu monstruosamente. Mas será que minha atitude inicial foi
a mais sensata? Ao invés de tentar mudá-lo, ou denunciá-lo, processá-lo meu
caminho foi partir para ridicularização popular de seu grupo social.
Nada nunca justificará a violência e o terror. Mas talvez
a força da comunicação resida no uso da liberdade para denunciar, divulgar,
chocar, conscientizar, criar movimentos e até mesmo incitar movimentos
militares contra tais monstruosidades. Desrespeito somente fará aumentar o
ódio, a opressão e a violência.