quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ensaio sobre a Saudade


Pegando carona numa das mais clichês frases que existe – saudade só existe na língua portuguesa – o brasileiro criou o termo saudade para definir que sentimos falta de algo que vivenciamos e não temos mais.

Para incrementar este ensaio eu sugiro que existem 2 tipos de saudade. A saudade do bem e a saudade do mal. Aí o querido leitor(a) pensa: esse cara tá com embromation, tá enchendo linguiça.

Vamos aos argumentos.

Saudade do Bem, em meu sóbrio ponto de vista, são lembranças sadias que carregamos de pessoas e fatos que encontramos no passado, que nos fazem sorrir, que construíram experiências positivas em nossa vida e em nosso caráter. Que não fazem nos refugiar de nossa vida atual nem repudiá-la.

Já Saudade do Mal eu encaro como uma prisão ao passado. A pessoa só tem em mente uma situação que viveu, compara com a atual e se prende a uma vida que não volta mais. Praqueja contra sua vida de hoje em dia, não olha pra frente. Sempre vai encontrar algo de ruim nas coisas atuais, em alusão ao passado.

Vejam essa frase da música “Lampião de Gás” (Zica Bérgami):

“Lampião de Gás, Lampião de Gás
Quanta saudade você me traz”

A saudade não é do Lampião de Gás (com tanto conforto que a energia elétrica traz, ninguém pode sentir saudade disso). Meu próprio pai falecido há 23 anos dizia que o bom é água encanada, luz elétrica, fogão à gás – em alusão a essas tecnologias domésticas que inexistiram na sua infância.

Talvez o lampião de gás represente uma fase rural de tranqüilidade. Uma clara falta de adaptação à vida urbana. De uma infância ingênua e sem contato com a crueldade e a mentira que imperam invariavelmente na vida adulta.

Vamos ver outro exemplo (“Ai Que Saudades Da Amélia” - Ataulpho Alves - Mário Lago):

“Ai, meu Deus, que saudade da Amélia

Aquilo sim é que era mulher


Às vezes passava fome ao meu lado

E achava bonito não ter o que comer”

Saudade da Amélia. Que coisa. Um exemplo de exaltação à submissão feminina. Sem entrar no mérito, porque são ideologias de 50 anos atrás. Mas voltando para o nosso ensaio, ele tem saudade de uma mulher que se anulava, que não tinha vaidade pra viver o mundo dele.

Mas não é da Amélia. Se encontrasse outra trouxa que achasse bonito não ter o comer ao lado dele, estava feliz, a Amélia que se dane onde quer que ela estivesse.

Conheço algumas pessoas que trabalharam comigo no passado e até hoje quando as encontro parece que o tempo não parou pra elas. Elas enaltecem o passado, criticam pessoas que estiveram conosco lá, algumas que até já morreram. Estão presas numa vida que elas consideram a única maravilhosa que tiveram.

Viver exclusivamente do passado é anular-se. Mesmo que os tempos de outrora foram de enorme bonança. É sempre motivador acreditar que o melhor ainda está por vir, e lutar por ele.

Certa vez, Chico Anísio, numa dessas balelas mensagens televisivas de fim de ano, disse uma coisa muito sábia. Algo como: “Que o ano que está por vir seja melhor do que o que passou e pior do que o próximo que virá”. Quer pensamento mais otimista que isso?

Já vivi coisas muito legais na minha vida. Mas quero viver ainda coisas bem melhores.
Já vivi momentos inesquecíveis com amigos, mas quero que eles estejam comigo no futuro em momentos mais inesquecíveis ainda.

Se ontem sorri, amanhã eu quero gargalhar.

9 comentários:

Clecia disse...

Olá,Julio!Tudo bem? Estou passando para agradecer a visita que fez lá no Mar Azul e também para conhecer seu blog. Gostei muito.Este post atual então! Gostei da sua teoria sobre os dois tipos de saudade. Faz todo sentido. Bjos e tudo de bom!

Izinha disse...

Oi,

concordo com vc, viver do passado não é viver é ficar preso e a vida está aí prá ser vivida.

bjos com carinho!

Sabrina Vaz disse...

"Se ontem sorri, amanhã eu quero gargalhar."BRAVO!

Andréia disse...

Ola julio obrigada pela visita! mt bacana seu blog
=*

Marjozinha disse...

Bom dia, Julio...cheguei e vi seu recado. Obrigada por visitar meu blog, espero que tenha gostado. As coisas que li no seu, até o momento, gostei muito. Concordo com você sobre os tipos de saudade. Tenho um amigo, psicólogo, que não gosta quando digo que estou com saudade...rs...Mas eu explico que a saudade, nesse caso, é boa. Saudade de conversar, dar risada, falar bobagens. E a saudade ruim realmente é aquela que nos prende a um tempo que não volta, e nem deve voltar, pois pode até nos ter deixado algo de bom, mas as coisas ruins talvez tenham sido maiores. O negócio é viver a vida, ir tocando em frente, conhecendo coisas, lugares e pessoas novas. Isso sim é viver! Um beijo! Apareça sempre.

Helenira disse...

Adorei a última frase, obrigada pelo convite para conhecer o blog, adorei! visite o meu sempre que puder também!
abraços blogueiros!

Lucy in the Sky with Diamounds disse...

Concordo com você!
Sempre acreditei que os momentos são únicos em nossas vidas...
Muitos, julgam-nos pelo passado. Do passado, o relevante, é apenas o que aprendemos com ele.
Algo que aprendi na vida e na medicina, é que o amanhã pode ser tarde. Por isso, valorizo cada segundo do momento que vivo e, acima de tudo, procuro estar presente neste momento.

Beijos

Marília disse...

Saudade. Tema profundíssimo!!!Se me permite um escrito, deixo aqui um pouquinho de Clarisse Lispector, frase que admiro imensamente!!!!
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas as vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: Quer-se absorve a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." (Clarice Lispector)
Para mim é exatamente isso:
Um dos sentimento mais urgentes da vida!
Beijão

Gisela disse...

Júlio, não tenho o prazer de conhece-lo pessoalmente, no entanto, tenho o prazer de ler você... E é, no mínimo gratificante. Parabéns por fazer jus ao DOM. Li todas postagens, e se em alguma não me identifiquei, revi conceitos e agreguei novos.
Você é bem vindo ao meu blog
Um abraço fraterno,
Gisela Fernandes
micaelaudi@hotmail.com