sábado, 24 de setembro de 2011

O Eu que as pessoas querem ver




Uma das coisas mais difíceis, pra não dizer impossíveis, é enxergarmos com precisão como os olhos dos outros nos vêem. Como nos portamos, como nos relacionamos, como tratamos e destratamos nossos próximos.
Muitas vezes em nosso pensar, estamos oferecendo ao exterior atitudes máximas de compreensão, companheirismo, solidariedade, apoio. Muitas vezes isso ocorre mesmo. Mas muitas outras isso não é bem verdade.

Evidentemente que o que citei acima apenas diz respeito a ações do bem que a vivência social nos permite praticar. Imagine então atitudes corrosivas e dolorosas que praticamos aos outros, sem nos darmos conta disso....

O outro lado também é real. Às vezes algumas pessoas esperam além do limite a prática de nossas ações.
Eu sou daqueles caras chatos que odeiam favor dos outros. Vou a pé, mas não peço carona, por exemplo. Sempre em mente que estou incomodando, e nunca levando em conta que algumas pessoas próximas podem ter prazer em me apoiar, seja da maneira que for. Claro. Sou humano, tenho um container de defeitos. E esse pode ser um deles.

E pelo outro lado da moeda, quantas pessoas conhecemos cujo defeito pode ser exatamente o contrário deste meu? Aquela pessoa pegajosa, que vive no nosso pé, pra tudo. Não descola. Algumas delas, suportamos talvez por tratar-se de pessoa amiga da qual nutrimos grande afeição. Já outras praticamos um "chega pra lá", de forma polida ou agressiva, com muita facilidade.

Algumas pessoas e isso talvez se aplique a nós mesmos, sem que tenhamos ciência, não conhecem muito bem a fronteira entre a real necessidade e a constante dependência, algumas vezes muito cômoda. É aquela velha estória de se ajudar algum pedinte à sua porta. Muitos não o fazem não por falta de humanidade, mas por defender a tese de que essa pessoa necessitada sempre será um pedinte se tiver ajuda constante.

Mas como melhorar nosso "Eu" exterior, se não sabemos exatamente se ele precisa de melhora?
Uma reflexão social junto a amigos seria uma das formas mais diretas de isso acontecer. Mas também sabemos que praticar isso é como encontrar um lírio no deserto. Às vezes nos privamos de diálogo como nossas próprias esposas/maridos e filhos, o que dirá de praticar um "abre-coração" com amigos próximos?

Às vezes nossa consciência nos dá alguns beliscões. "Puxa, não deveria ter falado assim com tal pessoa", "Devo estar mais presente junto desse ou daquele", "Fulano ou fulano precisa me ouvir e fui impaciente". Quantas e quantas vezes a gente não sente isso cutucando a mente....

Algumas pessoas têm um poder de auto-análise muito bom. Diferente de mim, que não tenho a mínima capacidade de imaginar como é minha imagem perante olhos externos. Essas (afortunadas) pessoas por ter essa capacidade, talvez consigam se corrigir constantemente, e por conseqüência, se transformar em alguém muito querido e desejável de se conviver.

Se você não é uma pessoa pública - um político, um líder religioso, um artista - talvez não tenha como necessidade se preocupar tanto com o que as pessoas pensam de você. Mas imagino o quão mais perfeitas seriam as relações humanas se conseguíssemos nos corrigir a partir de nós mesmos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A motivação nossa de cada dia




O substantivo Motivação talvez seja o mais auto-explicativo termo da junção de duas palavras “motivar” e “ação”. Ações são motivadas por meio de muitas causas: obrigação, necessidade, compaixão, companheirismo, e a principal delas, mas nem sempre a mais utilizada: o interesse sincero.

Numa de minhas passagens profissionais, lidei com equipes de venda. E a aplicação da motivação nesse ambiente funcionava como uma ferramenta elementar para o sucesso do objetivo comercial da área. Campanhas, eventos, padrões comportamentais eram freqüentemente inovados com o intuito de motivar cada profissional em questão na busca de atingir suas metas e por conseqüência, seus ganhos.

Mas, mesmo que essa motivação viesse de fora, ou seja, ela tinha que ser imputada no dia a dia de cada profissional, e que por muitas vezes funcionava, acabava por tornando uma ação obrigatória. E, nem sempre algo que é obrigatório, é algo prazeroso de se praticar.

A motivação tem que vir de dentro. As ações que praticamos em nossas vidas sempre vão visar nosso bem estar, material e psicológico. E muitas dessas ações nos causam tensão, stress, desconforto e desgaste.

Acredito, por exemplo, que a grande maioria das pessoas trabalha em algo que não amam fazer. Mas o fazem pela necessidade óbvia. Para essas pessoas, acordar todo dia, enfrentar sempre a mesma rotina entediante é algo que as faz basear os “motivos” dessa “ação” na subsistência. Em contrapartida, pessoas que amam seu trabalho, têm um prazer interno extasiante, que o faz às vezes nem se preocupar com horários, condições ou atritos pessoais. Elas o fazem por prazer, o “motivo” da “ação” nesses casos é a satisfação de desenvolver o trabalho.

Eu costumo sempre usar o exemplo do livro. Quando você ganha um livro, e invariavelmente, trata-se de assunto que nem sempre lhe interessa, você não vai se esforçar muito para sua leitura. Agora, quando você vai à livraria, e paga por um livro cujo teor é algo sublime pra se consumir, você não vê a hora de estar no conforto de sua casa, para poder navegar horas por suas páginas. É a diferença da motivação por obrigação da motivação por prazer.

E isso se aplica a qualquer de nossos momentos da vida. Social, familiar, religiosa, amorosa. Há alguns meses vi uma matéria na TV sobre o jogador Castilho, goleiro que atuou pelo Fluminense na década de 1950. Poucos dias antes de uma final de campeonato, Castilho fraturou o dedo mindinho da mão esquerda, e sua recuperação levaria dois meses. Ou seja, ficaria de fora da final. Questionado, o médico lhe disse que a única maneira de se ter uma recuperação rápida a tempo dele poder jogar em tal final, seria a amputação do dedo. Assim a cicatrização seria rápida e não impediria sua atuação. Castilho não pensou muito, solicitou a amputação e esteve em campo defendendo sua equipe. Sua paixão pelo clube, por estar no grupo nessa final, era sua maior motivação a ponto mesmo de se mutilar. Diferente e muito da quase totalidade dos atletas de hoje que motivam suas ações nós dólares do futebol estrangeiro.

São histórias de vida que ilustram bem a reflexão deste tema. Uma casa nova, uma namorada nova, uma viagem, o nascimento de um filho, uma final de campeonato, são eventos que sempre nos despertam um clímax motivacional que às vezes exalam até pela pele. Que bom se pudéssemos ter essa motivação para as obrigações que enfrentamos diariamente para vivenciar esses eventos.