quinta-feira, 9 de maio de 2013

Maioridade Penal: O inferno também tem crianças



Um dos assuntos mais discutidos pela sociedade brasileira hoje em dia é a alteração na constituição nacional no tocante da maioridade penal. Mais que necessária, essa discussão faz parte de uma mudança que visa trazer ao futuro um nível de segurança bem mais reconfortante do que o que vivenciamos nos dias atuais.

Sempre existirão conflitos com os dois lados da moeda: um jovem de 16 anos deve ser considerado um bandido no mesmo patamar de periculosidade do que um de 20? Aplicar penas privativas de liberdade vai fazer desse adolescente um futuro criminoso, uma vez convivendo com pessoas mais experientes dentro de uma penitenciária?

Talvez o grande “X” da questão seja mais filosófico. Qual a fronteira onde uma pessoa deixa de ser uma criança irresponsável para se tornar uma pessoa com intenções de maldade? Um garoto de 13 anos com um revolver na mão que assalta e mata um cidadão, tem consciência dos danos que está causando a outra vida humana? Para dezenas, centenas de adolescentes que vivem nas ruas, em contato com as drogas e a marginalidade, utilizando da violência como forma de sobrevivência, existe alguma esperança de futuro? Existe alguma chance que essas criaturas venham a ter uma vida decente, venham a ter boas intenções? Ou estão condenados a matar ou morrer?

Por mais que digam que a violência navega por todas as classes sociais e econômicas, é totalmente provável que a grande maioria dessas crianças, aprendizes de assassinos, estupradores e traficantes, venha de classes menos abastadas, onde não impera o sentido da educação familiar, onde não se convive com o hábito de frequentar escolas, ou se introduzir o jovem a alguma profissão.

A grande verdade é que, além de proteger o cidadão, as penitenciárias ou institutos de detenção de maiores ou menores, tem como razão de existência a recuperação do detendo para viver em sociedade, desvincular-se dos dogmas de brutalidade, violência e malfeitoria. Duvido que exista um só brasileiro que acredite na funcionalidade dessa razão, em face da situação caótica que o sistema penitenciário brasileiro vive. Em outras palavras, um menor que pratica um crime, sendo julgado e condenado, ou liberado de uma instituição de menores, dificilmente cessará sua atividade criminosa.

A solução talvez resida em evitar que um primeiro crime ocorra. E não tem como fugir de duas frentes: educação familiar e escolar. Mesmo em ambientes da mais absoluta pobreza. Não se pode corrigir o incorrigível. Há de se atuar na prevenção, não no conserto. E sempre vamos cair no lugar comum. Num governo onde cada semana nos deparamos com escândalos de desvio de verbas públicas, corrupção e má administração da máquina, como esperar que serviços como educação e segurança recebam a devida e justa cota de investimento? Como esperar que uma mãe com 8 filhos, residindo em lugares onde nem serviço de esgoto possui, possa garantir a qualidade de vida e futuro para todos eles?

A educação e instrução cultural devem impedir que essa mãe tenha mais que 2 filhos, sendo que ela não tem condições de criar nem mesmo um. Com ou sem intervenção do governo. Às vezes temos a sensação de que as crianças de nossa sociedade são tratadas como animais abandonados, jogados num terreno qualquer, e qual for mais forte vai sobreviver. Enquanto isso 15 belos estádios são apresentados para a Copa de 2014, num investimento médio de 600 milhões de reais cada um. Sei que sempre será bem mais fácil reclamar e apontar falhas, do que apresentar soluções concretas e funcionais, mas será que há interesse do governo nessas soluções?

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