Desde o principio da história humana, buscamos ter,
conquistar e almejar elementos materiais que nos forneçam conforto e segurança.
O que antes era apenas sinônimo de subsistência básica, se transformou, nos
tempos modernos, numa busca desenfreada em possuir mais e melhor.
Uma casinha própria, com cama, fogão, geladeira, televisão e
carro na garagem, não é mais o ápice do sonho de patrimônio. Hoje buscamos
sempre ter a melhor casa, a melhor cama, o melhor fogão, a melhor geladeira, a
melhor TV e o melhor carro. E muitas vezes em quantidade superior à única. A
cada ano que se passa nos dispomos insatisfeitos com nossos bens materiais.
Muito dessa insatisfação se deve ao desenvolvimento tecnológico que a cada mês
lança um novo e aprimorado produto no mercado, com a publicidade enchendo
nossos olhos de desejos.
Como viver nos dias de hoje sem nosso Smartfone, GPS, com
carro sem ar-condicionado e air-bag, sem smart TV com tela 3D, sem passar um
dia sequer sem olhar as redes sociais da internet, sem nossos 359 canais de TV
fechada? Será que tudo isso é premissa mesmo de felicidade?
Será que não estamos deixando de lado o prazer de consumir
cultura, encontros com amigos, viagens, shows ao vivo, tomar aquele vinho,
cozinhar aquele prato desafiador? Pode-se se dizer que nossa necessidade
tecnológica é o caminho para esses prazeres da vida. Mas muita gente se atém
apenas ao caminho e se esquece do destino. Se atém mais à embalagem do que o
conteúdo. Aos meios do que aos fins.
É evidente que ninguém vai voltar a habitar cavernas, e
claro que, a grande maioria da modernidade veio para facilitar nossa vida. Mas
a velocidade de se querer ter cada vez mais coisas pode estar sufocando o
ímpeto eterno da pessoa em ter momentos regozijantes em coisas simples. Se
passarmos correndo em frente a uma escultura ou a uma flor talvez não tenhamos
capacidade de assimilar sua beleza. Isso também se aplica às pessoas a nossa
volta. A busca transloucada pela sobrevivência e pela obtenção de bens não nos
deixa refletir de como está nossa relação com nossos familiares e amigos.
São clássicas as discussões acerca da distância psicológica entre
pai e filho, marido e mulher, irmão e irmã. Será que estamos vivenciando época
em que a tecnologia está ocupando o lugar do humanismo? Tal qual a lição que
vimos na animação Wall-E, onde os humanos vivem numa nave, cercados de conforto
para todo lado, e nem sequer caminham mais. Vê-se isso na vivência de nossas
crianças, onde videogames, internet e celular são seus companheiros inseparáveis.
Se suas vidas adultas sentirem falta de um mundo de descobertas e contato
humano físico na época da infância, o tempo poderá indicar o quão frio será o
futuro de nossa sociedade.
Isso tudo é apenas um lançamento à reflexão. Visto que tanto
eu quanto você estamos no meio disso. Estamos contaminados (do ponto de vista
bom ou mau) por essa transformação de costumes.
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