quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A preservação da imagem


Esta semana ocorreu em Rio Preto um fato, até de certa forma curioso. O padre Donizete, titular da catedral da cidade, fora detido por policiais, após avançar sinal vermelho e atropelar motociclistas. Levado à delegacia, o reincidente padre apresentava sinais de embriaguês.

Este fato me despertou a idéia de que muitas vezes existe uma necessidade especial de algumas pessoas, mais do que outras, em preservar sua imagem.

Todos nós temos às vezes uma necessidade de extrapolar o comum, ir além de nossos limites normais. Não estou dizendo que devemos fazer como o padre, dirigir supostamente sobre o efeito do álcool e colocar em risco a vida de outrem. Isso é crime, é invadir o direito dos outros, não é extrapolar.

Mas em alguns casos, em algumas posições não há concessão para esse tipo de válvula de escape. No caso do padre, que lidera um braço de uma instituição religiosa, uma atitude dessas denigre não só a sua imagem, como suposto disseminador da ideologia de amor instituída por Cristo, mas também da organização a que pertence.

O ato de extrapolar muitas vezes pode se confundir com o ato de irresponsabilidade. Mas nem sempre isso pode ser levado a tal extremo. Quem nunca se deu ao simples direito de se levantar um pouco mais tarde um dia? Tomar algumas a mais quando numa festa? Dançar até mais tarde numa boate? Demorar um pouco mais no banho quente? Comer aquele doce proibido pela sua dieta? Comprar aquela roupa que você achava super cara e que não podia no momento? Faltar daquela aula chata de sexta feira pra curtir um happy hour com os amigos? Esticar uns dias a mais numa praia? Fazer enfim o que chamam de politicamente incorreto.......

Em muitos casos, a pessoa pública, um servidor público, um artista, um professor, um jogador de futebol, um comandante religioso, um diretor comercial, às vezes não se pode dar ao luxo de cometer inocentes excessos, pois num deles, mesmo que uma única vez, pode manchar toda uma carreira marcada pela idoneidade, assim como manchar a instituição que representa.

Muito disso também é nossa culpa. Culpa do preconceito com que tratamos e muitas vezes julgamos alguém mais por sua imagem do que por sua essência. Quando vemos alguém se divertindo numa festa, de forma descontraída, podemos ocasionalmente colocar em dúvidas a seriedade desta pessoa no tocante profissional.

Conduta, ética, assiduidade, integridade. Isso tudo faz parte de pessoas que visam ter uma vida saudável através de seu crescimento, como pessoa, como profissional, como chefe de família, como líder de comunidade. E acho que uma vida toda dedicada a isso não pode e não deve ser manchada por momentos que dedicamos a nós mesmos e que nos damos ao direito de extrapolar um pouco. É o que eu chamo sempre de excesso gerenciável.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Guerra de Egos

Quem nunca ouviu aquela velha prática: “Futebol, Política e Religião não se discute”.
Muito disso obviamente embasado na obsessão fanática por uma ideologia, sem dar muita bola à razão e ao bom censo.

Há algum tempo era comum encontrarmos Malufistas assumidos. E aquele torcedor fanático que às vezes até mata e morre por seu time sem querer reconhecer a realidade comercial e de marketing que vive o futebol hoje.

Vamos respeitar então nossa querida e batida frase e vamos evitar a discussão. Vamos então chamar os comentários disso de reflexão.

Um assunto que tomou da mídia grande fatia de repercussão semana passada foi a guerra entre as 2 maiores emissoras populares de televisão: Record x Globo.

Acusações de lado a lado. Reportagens especiais. O horário nobre (nobre ou popularesco?) virou ringue, onde cada telejornal jogava cada vez mais aquela coisinha feia no ventilador.

A origem do embate: “Ministério Público oferece denúncia contra Edir Macedo e mais nove pessoas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, por lavagem de dinheiro, organização criminosa e formação de quadrilha”.

Uma notícia que poderia ser normalmente divulgada por qualquer órgão da imprensa. Mas evidentemente que a Sra. Globo não iria perder a chance de dar uma ênfase bem acima da média em se tratando do proprietário de uma forte concorrente. Em contrapartida, a Record lançou no ar dúvidas sobre negócios escusos da família Marinho, inclusive ligações com governo militar nos anos 60, 70, fraudes e todo e qualquer tipo de argumento que pudesse servir de arma nessa guerra pelo poder da mídia televisiva.

Até mesmo outro embate famoso da semana, Collor, Renam e Simon, fora ofuscado pela guerra das grandes TVs.

Respeito qualquer crença e acredito que cada um faz com seu dinheiro o que bem entender. Em outros momentos, até mesmo defendi uma fé cega, que se por um lado enriquece os defensores da fé, por outro traz mais dignidade a um lar, melhores condições de educação para uma família, que poderia estar exposta à violência do mundo atual.

A grande diferença entre o conceito de outras casas da fé com a IURD e (porque não) outros braços da religião evangélica é que, enquanto as primeiras oferecem uma vida plena e feliz num mundo futuro, governado por Deus, as segundas oferecem prosperidade agora, no mundo terreno. Eliminando sofrimentos, provendo sucesso profissional e empresarial. Isso funciona como uma conquista de clientes, onde a palavra chave é: consumo.

Mas ou menos assim: levo minha fé para quem puder trabalhar melhor ela e me trazer os maiores benefícios. Parece um leilão da fé. A crença no invisível, nas promessas de um reino futuro, na ressurreição, são suprimidas por soluções imediatas.

O crescimento do segmento evangélico mostra o desespero das pessoas, que vivem num mundo onde a luta pela sobrevivência, aliados aos problemas comuns do ser humano, como falhas nos relacionamentos, emprego, segurança, e precisam se apegar a algo imediatamente.

Quem está certo? Quem está feliz. Conheço pessoas evangélicas que vivem mais felizes hoje do que antes de se tornarem. Se estão deixando um homem bilionário cada dia mais, talvez o julgamento não seja de nossa alçada humana.

Enquanto isso, vez ou outra, surge essa guerra comercial entre os detentores do poder da comunicação. Veículos de forte impacto na opinião pública disputando a audiência no tapa.

Irregularidades fiscais, fraudes, e qualquer outro tipo de atividade que afronte à lei têm mesmo que ser investigadas e DIVULGADAS. Mas com imparcialidade, afinal para qualquer canal de imprensa, credibilidade é fundamental no tocando da notícia. E, como passar credibilidade quando se usa a divulgação de uma notícia com interesses comerciais próprios?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As mães nem sempre estão certas


A imagem da mãe é uma das mais puras e idolatradas. Tirando alguns casos freak de filicídio, mãe sempre foi sinônimo de proteção, confiança e exemplo.

E tem porque sê-lo. Afinal mãe, mais que o pai, é a autêntica criadora. A coisa mais perfeita que se aproxima de Deus no tocante da criação. Uma mãe sempre vai cuidar, amar, proteger e defender suas crias. Mãe de assassinos, mãe de políticos, mãe de juiz de futebol, mãe de vencedores, mãe de crianças excepcionais, todas perdoam, todas cuidam, todas lembram.

Mas as mães nem sempre estão certas. Claro que ninguém é perfeito. Até desnecessário mencionar isso. Quem nunca ouviu falar de uma mãe superprotetora? Ou de uma mãe, que por orgulho e vaidade próprias influenciam as escolhas do(a) filho(a)?

Criar um filho com educação, esmero, higiene. Dar-lhe e enraizar-lhe noções de bom comportamento, tato e bom censo pra lidar com as coisas, mesmo que nem sempre aconteça, é uma dádiva de mãe que visualiza o futuro dos filhos.

Mas muitas vezes as mães pretendem incorporar em seus descendentes sua maneira de ver o mundo. De querer viver, de viver emoções, de ter sua personalidade.

Antes que alguém aí pense que esse raciocínio descenda de alguma experiência de vida de minha pessoa, já adianto que lido muito bem com isso. Tenho minha personalidade e meu espaço e minha criadora outros.

Talvez a folclórica imagem da sogra, aquela que é maquiavélica, sempre disposta a infernizar a vida de genros e noras, se originou justamente nessa idéia de querer para os filhos uma vida que ela acha que é a mais correta, mas pra ela.

Não sei se alguém se lembra do filme Ray, uma película cinematográfica baseada na biografia de Ray Charles, aliás uma excepcional filme em todos os sentidos. No filme, que remonta a história do cantor desde a sua infância, mostra o início de sua deficiência visual e as dificuldades que enfrentou daí pra frente. Mas uma das cenas que me chamou a atenção foi uma que mostra a mãe de Ray. Sempre batalhadora, numa vida de pobreza, enfrenta os infortúnios do mundo, quando o filho mais novo morre acidentalmente e descobre que o mais velho está ficando cego.

Numa cena pra lá de emocionante, Ray já não consegue enxergar, entra em casa chorando e chamando pela mãe. Ela num canto, se degladiando em lágrimas, ouve o chamado, mas não vai a seu encontro. Deixa ele descobrir sozinho os caminhos do barraco, até chegar no local onde ele desejava. Ela, numa visão onde muitos pudessem supor ser cruel, estava começando a preparar o filho pras dificuldades que a vida de um cego lhe reservaria. Ela o estava estimulando a se virar sozinho, a desenvolver demais sentidos. E essa sempre foi a tônica da educação que ela lhe daria. Mesmo sem enxergar, nunca dependeria de ninguém na vida.

Em que mais pese talvez os exageros da adaptação, essa idéia é mais que apropriada pra ilustrar um exemplo de educação voltada mesmo para que a pessoa saiba enfrentar o mundo em sua fase adulta.

Criar um filho, colocando nele a idéia de que o mundo é lindo, perfeito, as pessoas são sempre legais, amigas, bem intencionadas, talvez seja um erro estratégico de educação.

Nem vou entrar no mérito da educação e influência religiosa, porque isso gera vários posts.

Mas o que quis passar aqui é essa idéia. Por mais perfeita que seja nossa admiração pelas mães, às vezes elas nem sempre acertam.