segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Era da Impaciêcia




Os tempos modernos nos transformaram em seres imediatistas, onde a paciência e a calma não mais residem. O avanço da tecnologia, que nos propiciou um nível de conforto cada vez mais ágil, nos tornou dependentes de soluções e ações rápidas e práticas.

Há cerca de 20 anos, operávamos computadores sem interface gráfica com 30kb de memória, que levava minutos a estar apto ao uso. Hoje chamamos de lerdos equipamentos de muitos gigas de memória, com clocks de milhões de pulsos por segundo. Passávamos horas em filas de banco e passamos segundos xingando uma máquina de auto-atendimento que demorou alguns minutos pra não obedecer nossa operação. Tínhamos alguns parcos canais de TV pra assistir, hoje com 300 canais disponíveis ainda dizemos: "essa televisão não tem nada pra ver".

Dirigíamos horas num carro que atingia poucas velocidades, que dobrava o banco pro passageiro de trás entrar e sair, e cujo único sistema de ventilação era o propiciado pelo vidro descerrado. Hoje, num carro automático, com ar condicionado até nos bancos, reclamamos que nosso GPS fica corrigindo rota a todo instante.

Perdíamos horas nos locomovendo entre lojas de móveis e eletrônicos/eletrodomésticos em busca dos melhores preços e aguardávamos uma semana pra receber o produto em casa. Hoje, se uma mercadoria demora mais que 2 dias pra chegar, já desqualificamos a loja virtual.

È certo de que, seja pelo crescimento econômico ou social, ou pela própria maturidade, atingimos patamares de conforto e primamos hoje pela excelência da qualidade. Não basta, por exemplo, um restaurante ter uma saborosa comida. Queremos qualidade, no atendimento, nas instalações, na iluminação, na decoração, no entretenimento. Esse contexto, no entanto, tem haver com o progresso econômico, que faz com que cada vez mais a qualidade de serviços e produtos, seja um (excelente) fator de exigência do público consumidor. Não está diretamente ligado ao comportamento social, tema dessa nossa reflexão.

O que talvez se discuta aqui é a perda do poder do exercício da paciência. Não conseguimos mais, na maioria das vezes, aguardar, esperar ou mesmo respeitar pequenos e por vezes irrisórios atrasos em nossas ações do dia a dia. Num mundo, onde imperam a agitação, a velocidade da informação, as constantes mudanças mercadológicas e profissionais, acredito ser cada vez mais difícil recuperarmos esse poder.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Agressão ou Correção? Crimes contras as crianças




A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que proíbe pais de baterem em seus filhos.


É evidente que o ser humano, pelo ritmo de vida dos tempos contemporâneos, se tornou mais frio, mais disperso e mais agressivo. E essa agressividade se revela também em âmbito familiar. Basta lembrar-nos de tantos casos de violência contra esposas e até mesmo contra filhos. Para nos afinarmos nesta reflexão, deixemos de fora casos monstruosos como, por exemplo, o do Nardoni. O que talvez devamos pensar é: qual a fronteira que separa violência contra crianças de uma educação um pouco mais rígida?

Vivenciamos hoje em dia a era do caos, onde tudo é polêmico, tudo é hiper-dimensionado, tudo é confundível. Até que ponto um singelo beliscão aplicado por uma mãe numa criança desobediente pode ser categorizado como agressão?

Qual o parâmetro que a justiça adotará para definir se uma criança foi ou está sendo espancada ou apenas levou uma correção um pouco mais áspera?

Acredito que quase todos conhecemos casos de pais que permitem que seus filhos façam o que querem. E em alguns casos acham até bonito aquele rebento arteiro, desbocado e sem modos. É perfeitamente imaginável que essa criança torne-se um adulto com hábitos desagraveis e de difícil socialização. É a mais perfeita prática do popularesco tratamento "falta-de-educação".

Seria um mundo familiar perfeito se apenas conversas fossem suficientes para direcionar o comportamento infantil para o lado da boa índole. Mas, infelizmente, sabemos que dependendo da personalidade da criança, é necessária a aplicação de castigos ou uma óbvia moderada repreensão física. É o consciente da criança sendo construído para que seu pensamento sempre saiba que se fizer algo errado, terá que pagar por isso. Terá que prestar contas com a sociedade. O ato de corrigir dos pais na infância será a do poder judiciário na fase adulta.

Os efeitos dessa lei podem, por que não, inibir a atitude dos pais nesse tipo de correção disciplinar. Às vezes pequenas repreensões podem gerar denúncias por contas de vizinhos ou outras pessoas próximas, alardeados pela nova lei.

É louvável qualquer iniciativa legislativa que vise proteger e defender a vida saudável e a integridade de seres mais frágeis. Mas nunca é descartável a discussão em torno dos efeitos que essa iniciativa possa causar, tratando-se, principalmente, de algo que envolva mudança de comportamento familiar e social.