quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nascemos para perder.....Que bom!





Quando nos deparamos audiovisualmente com o termo "perder", nossa primeira reação instintiva é uma sensação negativa.
Perder, no conceito vital, significa algo ruim.

Perder um emprego. Seu time perder o campeonato. Perder dinheiro. Perder por morte um ente querido. Perder uma namorada. São sentidos desagradáveis.

O Aurélio classifica perda como "s.f. Ato ou efeito de perder ou ser privado de algo que possuía. / Diminuição que alguma coisa sofre em seu volume, peso, valor. / Prejuízo financeiro. / O ato de não vencer."

Até mesmo o Aurélio dá uma conotação negativa ao ato de perder.

Mas desde que nascemos estamos perdendo algo.

Envelhecer é perder juventude. Envelhecemos desde que nascemos.

Perdemos o cordão umbilical. Mas para começarmos a sermos seres independentes, mesmo de nossa mãe, mesmo com 1 minuto de vida.

Perdemos o colo seguro e protetor da mãe. Mas para explorarmos o mundo e a vida com nossas próprias pernas.

Perdemos nossos dentes de leite. Para que os definitivos cresçam fortes e perenes.

Ao longo da vida, perdemos células, sangue, cabelo. Para que outros nasçam novos no lugar.

Perdemos nossa virgindade. Para abraçar o amor na vida adulta.

Perdemos a ingenuidade. Para vencermos algumas batalhas nesse mundo selvagem, injusto e cheio de cobras.

Com os anos perdemos um pouco o poder dos sentidos. A visão, a coordenação motora, a audição, a paciência. Mas a perda física dá lugar à experiência de vida, que nos faz cada vez mais capazes de pensar melhor racionalmente e emocionalmente, enfrentarmos situações de pressão. Nos dá o dom de poder orientar e ajudar pessoas mais jovens.

Às vezes perdemos a confiança nas pessoas, perdemos a esperança de que ainda há gente justa, boa e interessante nesse mundo. Mas talvez esse tipo de perda seja para que possamos encontrar sempre novas pessoas, que possam nos devolver essa confiança.

A luta do dia a dia faz com que percamos nossa fé, fé em nossa espiritualidade, seja qual for o caminho que escolhamos pra chegar ao Mestre do Bem.
Mas a perda da fé, nos faz fracos e nos atira no abismo das almas fracas. Para que possamos nos levantar de novo e reforçá-la cada vez mais.

Mas talvez a grande e significante perda pela qual passamos é quando perdemos a chance de viver intensamente cada dia. Perdemos a chance de evidenciar o quanto gostamos de alguém, seja da forma que for. Perdemos a chance de olhar a vida sempre de uma forma otimista. Perdemos a chance de ajudar, estender a mão, afagar, motivar, sorrir, quando alguém sem rumo apenas precisa de um gesto simples.

Eu acredito que viemos sim ao mundo pra vencer, sermos felizes, repartir quando se tem bonança, sermos ajudados quando estamos na tempestade. Mas para que deixemos esse mundo com essa sensação de plena vitória, temos que enfrentar muitas e muitas perdas pelo caminho.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A tradicionalização do descrédito na cultura popular

* Matéria do CQC (TV Bandeirantes) noticia que a prefeitura de Salvador gastou R$ 500 milhões para construir vastos 6 Km do metrô da cidade.

* No discurso de inauguração do trecho sul do Rodoanel, o governador de São Paulo e confesso candidato às próximas eleições presidenciais, José Serra anunciou que o custo da obra foi R$ 5 bilhões.

* Outdoor da prefeitura da minha cidade anuncia que a obra para novo interceptador do Córrego Borá foi estimada em R$ 2,5 milhões.


Eu pergunto. Qual brasileiro que olha para estes números e acredita fielmente que tudo foi gasto e destinado às próprias obras?
A primeira impressão e leitura que temos é que o que a grande totalidade faria é de imaginar que no meio disso há desvios de verbas, hiperfaturamento, corrupção, sem mesmo conhecer nenhum detalhe do desenvolvimento do projeto.

E por que pensamos assim?

Acredito que a fé nos governos (ou até mesmo nos próprios seres humanos) foi totalmente deteriorada pra sempre.

Durante décadas e principalmente após os anos de ditadura - onde a imprensa teve a abertura política para denúncias - somos bombardeados diariamente com notícias de denúncias sobre enriquecimento ilícito de nossos comandantes políticos, uso do dinheiro público para obras de marketing político, enquanto a grande massa da população sofre com a extrema deficiência dos serviços públicos.

E não precisa ir a Brasília ou às sedes administrativas do estado e municípios para testar esta fé nas intenções humanas. Todos nós conhecemos alguém que ajuda entidades filantrópicas com eventos como festas beneficentes e outros do tipo. Sem conhecer direito o trabalho dessas pessoas é bem comum ouvir comentários do tipo: "...acha que toda grana deste evento vai mesmo para esse fim social?" ou "...com certeza ele tá mordendo alguma coisa aqui".

Vou até mais longe. Esse descrédito no ser humano chegou ao ponto de se analisar negativamente uma pessoa e esperar que ela prove o contrário para se ter certeza de sua benevolência.

Acho que isso já faz parte da cultura brasileira da atualidade. Somos descrentes em nós mesmos. E temos e teremos sempre descrédito em qualquer espécie de governo. De hoje e dos anos vindouros.