segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pague 2 e leve 1.


A foto da placa acima, que ilustra este post, é uma habitual conhecida, pois a vejo todos os dias num cruzamento de vias, rota do trabalho à residência.
Em primeiro plano a mensagem nela contida reflete uma (boa) ação de combate à doação de esmolas, no intuito de reduzir o estímulo à mendicância gratuita ou o consumo juvenil de entorpecentes. Trata-se do Projeto Cara, uma instituição que cuida de crianças e adolescentes que vivem a beira da marginalização. O trabalho funciona em conjunto com os dois conselhos tutelares (norte e sul), polícias civil e militar, além da Vara da Infância e da Juventude.

Um raríssimo, bem-vindo e louvável serviço de atendimento e acompanhamento de menores carentes, desonerando ONGs e iniciativas privadas.

Digo e enalteço ser um raro esse tipo de serviço, porque já virou cultura popular um efeito de ambigüidade, no que se refere a atendimento social.

Na grande realidade, a vivência do brasileiro nas últimas décadas segue uma tendência de particularização dos serviços sociais que necessita.

Aproveitando uma estabilidade econômica nunca experimentada em anos anteriores a segunda metade dos anos 1990, a massificação dos serviços sociais privados aproveitou-se do cansado e da desilusão que o povo teve e tem de seu governo, e expandiu seus domínios.

Hoje, mesmo cidadãos de classes econômicas menos desprovidas, conseguem manter um plano de saúde para sua família. E mesmo assim, trabalhadores e empresas contribuem com cargas pesadas de impostos para a Previdência Social. Falando em previdência, mesmo que não tão populares, os planos de previdências privadas estão aí pra garantir algo que logo não existirá mais: aposentadorias custeadas pelo governo.

Pagamos todo ano IPVA, licenciamentos, mas todos temos seguros particulares de nossos veículos.

Cada vez mais, os pais tentam custear escolas boas e privadas para seus filhos, em face da fraca estrutura do ensino público.

Bastante comum entre várias áreas habitacionais, é a contratação de segurança privada, na tentativa de inibir furtos e assaltos.

Em suma, pagamos em dobro. Somos obrigados a arcar com uma carga tributária altíssima e por conta da deficiência dos serviços sociais prestados pelo governo, temos que esmiuçar nosso orçamento para contratar esses mesmos serviços de forma particular.

De um lado, somos obrigados a pagar por algo que não temos condições de usar.
De outro, se quisermos usar algo com condições, temos que pagar novamente.

Custos paralelos seguindo por uma mesma via. Pena que nossos ganhos com salários ou lucros de empresas, são de uma pista única.

Pague 2 e leve 1.

5 comentários:

Unknown disse...

Uma belíssima reflexão. O objetivo em sermos obrigados a pagar por uma educação é a desigualdade. A nossa Constituição já previa isso. A igualdade será sempre um objetivo enquanto permitirmos.

abraço

Marcelo disse...

Muito bom, Julio! Realmente chama a razão! Parabéns!

Simonadasutil disse...

Como você outros milhões de brasileiros vivem as mesmas agruras, mas já houve um avanço muito significativo, é claro que na época dos nossos pais o ensino era melhor, tinham menos roubos, quase não ficávamos doentes, os políticos eram menos gananciosos e por conseguinte mais honestos, maltrapilhos e pedintes eram coisas raras de se ver, hoje essa é uma realidade que veio no bojo do progresso, se crescemos e nos educamos aos trancos e barrancos para sermos no mínimos cidadãos, outros de nós estagnaram tiveram um monte de filhos, abandonaram as escolas de qualidade duvidosa e engrossaram as estatísticas da pobreza, muito bem sacada sua reflexão

Leandra disse...

Principalmente quando é essas pessoas que ficam com crianças na ruas e farois....

Sei que não é facil ver e não tentar ajudá-los, porém é importante saber que, por trás dessas crianças tem adultos safados que ficam usando as crianças para de dar bem.... Antes eu até ajudava, agora prefiro ajudar uma instituição de caridade que confio e sei que o trabalho é serio...

Uma vez, perguntei a uma criança no farol o por que que ela estava ali e não na escola, ela falou que os pais a obrigava e falou que senão consegui esmola os pais batia nela, perguntei por seus pais e ela apintou onde eles estavam, a mãee o pai estavam em um bar próximo ao farol numa boa.... enquanto seus filhos estava pedindo esmola..... chequei perto do bar e perguntei porque eles faziam isso com as crianças, e sabem o que ele respondeu?

Os filhos são meus e faço o que eu quiser e ganho muito mais assim que trabalhando... e ainda disse que enquanto existisse trouxas que dão esmola ele faria isso sempre.

Por isso, não ajudo mais e se conheço alguém que o faz procuro mostrar a verdade para que também pare de fazer .


Uma belíssima reflexão.

Anônimo disse...

Quem nunca se deparou com a presença de pedintes no trânsito e nas ruas? Alguns pedestres e motoristas, sensibilizados, dão esmolas e acreditam que um pouco de dinheiro pode amenizar a fome e a necessidade destas pessoas. Outros reclamam, dizem que dar esmola não ajuda em nada e que estimula a permanência destas pessoas nas ruas. Alguns fecham os vidros dos carros, ficam com medo e até pedem a presença da polícia.
A esmola transformou-se numa forma de sobrevivência de norte a sul do País. Seja pela incapacidade do estado de prestar assistência efetiva aos necessitados, ao desemprego ou aos salários baixos, esse tipo de caridade já chega a faturar R$ 2,1 milhões por mês só na cidade de São Paulo. Para muita gente, rende mais implorar uns trocados, sob sol e chuva, do que batalhar pelo salário mínimo.