terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Será que aceitamos "estar envelhecendo"?

A letra a seguir é de "Não Vou Me Adaptar", de Arnaldo Antunes (disco "Televisão", dos Titãs, de 1985)

"Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Eu não vou me adaptar, me adaptar

Eu não tenho mais a cara que eu tinha
No espelho essa cara já não é minha
É que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho"

Ela retrata bem a situação onde a velhice vem se enraizando cada dia mais dentro da gente. E realmente não percebemos. Ninguém acorda de repente e fala: estou velho. Se considerarmos que, no mundo presente, a maioria das pessoas é bombardeada diariamente com dezenas de atividades. Família, trabalho, estudo, amigos, hobbies, investimentos, contas, veículos, religião, e bem comumente, tudo isso junto no dia a dia. Raramente alguém para pra pensar no que se viveu, no que aprendeu. A era da informação nos transformou em seres agitados, impacientes, e dependentes dessa rotina. E, mesmo aos 40 ou 50 anos, ainda temos a sensação de sermos os mesmos de 20 ou 30 anos atrás.

Na verdade, o ser humano tem a mesma capacidade vital de muitos milênios. Pode estar mais exposto a doenças (as psicológicas nos dias hoje, principalmente), a más rotinas alimentares, sedentarismo, vícios químicos. Do outro lado, a medicina nos ajuda a prolongar nossos dias. Mas, a exemplo do passado, raros são os que passam dos 90, com boa dose de saúde e consciência. Talvez, há cerca de 50 ou 60 anos, os padrões eram outros. Um homem de 40 ou 50 anos já era avô. Era o chefe de família, era o Sr. homem da sociedade.

Existe hoje uma juventude cinquentona que amadureceu junto à era da tecnologia e das 1000 atividades. Mas, a exemplo de alguém que viveu em 130 A.C. ou alguém dos anos 1930, a idade nos cobra. A visão que falha, as dores no corpo, a memória não é mais perfeita e rápida. Os cabelos que caem ou se embranquecem, a pouca resistência à noite. A impaciência com os costumes dos mais novos. São sinais que insistem em nos dizer todo dia que estamos na curva descendente da vida.

Mas a gente está disposto a ouvi-los? Não. Anda achamos que aguentamos correr uma hora num futebol, que vamos sempre abaixar sem ter dores ou mal jeito, achamos que somos os jovens namoradores de duas décadas atrás. Achamos que podemos exagerar sempre numa mesa de bar, que temos tanta facilidade com novas tecnologias do que um garoto de 10 anos. Talvez nos recusemos a envelhecer, aceitar que a força que fica é a força da sabedoria. De saber lidar com muitas situações, com mais bom censo e equilíbrio emocional.


Claro que muita gente da meia idade hoje se cuida muito mais. Principalmente no tocante da alimentação e atividade física. Mesmo que a luta financeira do dia a dia seja mais favorável a uns do que a outros nesses sentido. Claro que podemos nos encontrar com uma doença agressiva logo ali na esquina. Mas, de uma certa forma, esse aglomerado de atividades que os cinquentões se deparar todo dia pode, sob alguma circunstância clínica, ser favorável a uma desaceleração cerebral mais vagarosa. Talvez isso faça com que vivamos muitos anos de nossa fase final da vida com boa capacidade de raciocínio, comunicação e poder ainda ensinar algo para alguém. Só resta saber se nosso estado espiritual e psicológico vai acompanhar essa condição orgânica.

Um comentário:

Ventadora disse...

Acho que somos seres com eons de existência multidimensional. Então, se a chama da busca pela sabedoria interna estiver acesa aqui na 3D, viveremos mais e mais como velhos jovens sábios. Um abraço galáctico.