domingo, 22 de junho de 2025

Recomeçar

 

 

Recomeçar. Para muitos, a tão árdua tarefa de se reerguer. Tirar a poeira do corpo e da alma, e se entregar a um novo começo.

 

A perda um de ente querido. O término de um relacionamento estável. O desligamento de um emprego após longa data. A falência de um empreendimento. O fracasso num vestibular. A vida sendo acometida por uma mazela de saúde. Invariavelmente todos somos atingidos em algum momento da vida por situações que nos atiram no chão, mergulhados por desespero e desesperança.

 

Sempre é salutar lembrar que as pessoas diferem entre si da força emocional interna quando se deparam com uma queda ou perda. Em casos, que não são raros, a depressão ataca o caído como uma fera sobre uma presa indefesa. Nesses casos, um recomeço talvez dependa de um auxílio de um profissional médico (psicólogo/psiquiatra), ou de um forte apoio familiar ou até mesmo religioso.

 

Também vinculado ao fator idade, por vezes, algumas dessas quedas parecem querem nos dizer que não existem mais forças, físicas ou psicológicas, para uma reação. Mas a “re-ação” é uma nova ação. Como um “re-começo” é um novo começo. E um novo começo pode nos oferecer tantos benefícios de uma situação fresca, imaculada, intocada. Um pacote de imensas novidades, bem ali à frente, tão próximo do buraco onde caímos.

 

Claro que os primeiros passos de qualquer jornada (mesmo nova) nem sempre estão livres de espinhos. Os riscos da empreitada de uma nova empresa, um novo relacionamento, um novo curso universitário, um novo emprego, por mais que planejados, sempre trazem dúvidas e inseguranças. Mas o tempo, nosso maior mestre, se encarrega de tornar os caminhos mais aceitáveis, mais controláveis, e com direito a correções de rotas em seu percurso. É alimento para construção da sabedoria.

 

Um dos maiores exemplos de recomeço talvez seja o Japão. A reconstrução de uma sociedade, de uma cultura e civilidade. O país, inimigo direto dos Estado Unidos na segunda guerra mundial, teve duas de suas grandes cidades destruídas por bombas atômicas. E décadas depois o país se reconstruiu, se transformando em potência mundial, econômica e tecnológica. Isso, sem a aparente sede de vingança e ódio a seu algoz de guerra, bem peculiar a alguns países do oriente médio. Sem contar que o Japão é arrasado significativamente ao longo das eras, por desastres naturais – terremotos e tsunamis, e ainda assim sempre recomeça e se reconstrói.

 

 

Sempre que uma pessoa compra um carro ou um televisor novos, se muda para uma casa nova que projetou, conhece um lugar turístico inédito, passa pela experiência da (pa)maternidade, ela vive uma sensação de regozijo e realização. É algo novo, que traz novas experiências, sensações de prazer, bem estar e conquistas, para o qual ela se entrega, se envolve e cuida, por muito, muito tempo.

 

Essa sensação do novo, da expectativa de experimentar novas emoções talvez deva ser a principal ação motivadora para se entregar ao recomeço. Uma chance de buscar propiciar ao corpo e à mente um novo caminho, para sustentação psicológica e emotiva, que pode senão enterrar, ao menos calcificar as dores e dissabores da recente queda.

 

Um novo começo pode oferecer um paradisíaco leque de novas possibilidades, trilhar novos caminhos, se atirar a novos desafios, experimentar novas vivências, experiências. Praticar novos erros e com eles aprender de novo.

 

E quando o recomeço terminar, e por acaso, uma nova queda cair sobre nossas cabeças, tem um novo recomeço fresquinho esperando ali na esquina.

 

Como tentamos propor à reflexão, em níveis díspares de dificuldade e força emocional, para recomeçar, de um modo padrão, basta começar.

 

 

JÚLIO VERDI

2025

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