segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Direito de Morrer


Matéria de capa da Veja desta semana  enfoca o polêmico tema da eutanásia. Segundo ela o Conselho Federal de Medicina orienta que os médicos do Brasil reconheçam o direito do paciente de escolher o seu tratamento, ou seja, de não escolher também. Com o título “Eu decido Meu Fim” a reportagem entra num campo da linha de vida de uma pessoa que envolve muitos fatores como psicologia, empatia, religião, medicina, livre arbítrio, filosofia, amor e dor.

Desde que nascemos é imputado ao nosso livre arbítrio a possibilidade de tirarmos nossa própria vida. Não existe maneira de impedir isso quando alguém o queira fazer, seja motivado por questões psicológicas, mentais ou religiosas. Por pressões emocionais, financeiras, morais ou trágicas pessoas se matam, muitas vezes por falta de estrutura ou vontade de resolver os problemas de seu cotidiano, por vezes levadas pelo desânimo ou injustiças.

Mas essa atribuição reside talvez na fraca personalidade do suicida. A questão em reflexão pela reportagem da revista é acerca de alguém acamado com uma doença violenta e de difícil recuperação. Neste caso dois pontos de vista podem ser levados em questão. O ponto de vista de quem está na pele do doente. Sofrer é algo que consome todas as energias, alegrias e qualquer mínima porção de otimismo que reside dentro do ser. Além da dor física, o fator emocional de quem fica meses, anos atrelado a uma cama, sem sequer ver o mundo exterior que conheceu tempos antes da doença. Quão pesada é violência mental e psicológica que acaba com o desejo da pessoa viver, antes que a moléstia retire sua última energia vital. Os duradouros tempos do isolamento do enfermo vão minando qualquer esperança de um dia estar em contato novamente com a família e a sociedade em geral. Às vezes mergulhar na escuridão e incógnita situação pós-morte, mesmo que ela não exista, pode ser menos dolorosa do que a carga das dores físicas e  psicológicas.

Mas existe outro ponto de vista. De é de quem vive ao redor do doente. Seja pelo juramento do médico em lutar até o fim pela reversão de moléstias, seja pela insistência da família, que por amor, não quer ver tal ente perecer, sempre se agarrando na fé e na esperança de ele se cure e volte ao convívio social. Mesmo que em muitas situações esse convívio possa representar desconforto, trabalho e sofrimento por muitas vezes existir a necessidade de cuidar de pessoas que se tornam dependentes, a família não quer, mesmo sendo uma situação racional e que eliminaria dores de ambas as partes, que a pessoa doente deixe de viver ao seu lado. Por mais que tal pessoa acamada enfatize seu desejo de morrer.

É um assunto que abre muita discussão. Num país como o Brasil onde o atendimento médico público é de péssima qualidade, não podemos deixar de pensar que essa seria uma solução cabível para acabar com a lotação de muitos hospitais ou centros médicos. Como crer que a eutanásia autorizada fora feita mesmo após todas as possíveis tentativas de tratamento para a doente já tenham sido praticadas? A ética médica funcionaria 100%? Mesmo raros, já algumas vezes temos notícias de pessoas que se recuperaram após anos em coma, ou após uma condição limitada de sinais vitais. Como garantir que milagrosas recuperações como esta não possam vir a atingir um moribundo decidido em querer por fim a sua vida?

São fatores que unem filosofia, estrutura da saúde pública e fé. Portanto nunca esperemos que haja maioria absoluta da população, concordando ou discordando deste direito de pacientes terminais (ou não) em colocar fim à própria vida, mesmo que eles nem a enxerguem mais como tal.

Um comentário:

Edna Lima disse...

É um assunto complicado de difícil decisão.
Boa noite . Abraços. Edna